Descubra como a asma afeta o seu sono: A perspectiva de médicos e fisioterapeutas respiratórios, além de depoimentos de pacientes
A asma é uma doença crônica que afeta uma parcela significativa da população brasileira, como revelam dados do Ministério da Saúde de 2021. Com mais de 1 milhão de atendimentos relacionados à asma registrados ao longo do ano na Atenção Primária à Saúde, fica evidente a importância de entendermos melhor essa condição e suas ramificações. Além dos fatores tradicionalmente associados à asma, como obesidade, sedentarismo, refluxo gástrico e ansiedade, um aspecto muitas vezes negligenciado é o impacto da asma no sono.
O que é a asma?
A asma é uma síndrome respiratória crônica caracterizada pela inflamação das vias aéreas. Pessoas que sofrem com a asma podem experimentar sintomas a qualquer momento do dia ou da noite, incluindo episódios de sibilos, falta de ar, sensação de aperto no peito e tosse. Esses sintomas são agravados quando o fluxo de ar é prejudicado, o que frequentemente ocorre durante o sono.
Como a asma interfere no sono?
A relação entre asma e sono é complexa. À medida que a asma compromete o fluxo de ar, os pacientes tendem a experimentar piora dos sintomas durante o sono. As crises de asma podem resultar em despertares noturnos frequentes, impactando negativamente a qualidade do sono. Essa fragmentação do sono não apenas prejudica o descanso noturno, mas também contribui para a sonolência diurna excessiva, afetando a capacidade de realizar atividades cotidianas, como estudar e trabalhar.
Insônia como fator de risco para a asma
Um estudo publicado no European Respiratory Journal trouxe à luz uma descoberta intrigante: adultos que sofrem de insônia crônica apresentam um risco até três vezes maior de desenvolver asma. Pesquisadores da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia conduziram um estudo com cerca de 18 mil pessoas, entre 20 e 65 anos, na Noruega. Os resultados revelaram que aqueles que relataram insônia pelo menos uma vez por semana tinham um aumento substancial, de 94%, no risco de desenvolver asma.
Ben Brumpton, um dos autores do estudo, destaca que as alterações no organismo provocadas pela insônia podem afetar de maneira mais grave as vias aéreas, uma vez que os efeitos nocivos da falta de sono se acumulam ao longo do tempo.
Perspectivas de especialistas
Gabriella, fisioterapeuta e especialista da Quallys, enfatiza a importância do acompanhamento médico constante para os pacientes com asma. “Embora a asma não tenha cura, o tratamento adequado pode melhorar significativamente a qualidade de vida do paciente, reduzindo a frequência das crises de asma e os distúrbios do sono relacionados”, destaca. Isso significa que um cuidado médico adequado e estratégias de gerenciamento são essenciais para minimizar os impactos da asma no sono e na vida diária dos pacientes.
Depoimentos de pessoas com asma
Para entendermos melhor os desafios enfrentados por pessoas que têm asma, ouvimos alguns depoimentos:
- Maria, 34 anos: “As noites com asma são difíceis. Acordar no meio da noite com falta de ar é assustador e cansativo. Às vezes, tenho medo de dormir profundamente porque sei que posso acordar em pânico.”
- João, 45 anos: “A asma afetou minha produtividade no trabalho. A sonolência diurna devido às noites mal dormidas prejudica minha concentração e disposição.”
- Ana, 28 anos: “Aprender a conviver com a asma é um desafio constante. O tratamento é fundamental, mas também aprendi a importância de cuidar do meu sono para manter a asma sob controle.”
O CPAP (Continuous Positive Airway Pressure) é uma terapia utilizada principalmente no tratamento da apneia obstrutiva do sono (AOS), que é uma condição em que as vias aéreas se fecham parcialmente ou completamente durante o sono, levando a interrupções na respiração. Embora o CPAP seja mais comumente associado ao tratamento da AOS, em alguns casos, ele também pode ser benéfico para pacientes com asma, principalmente quando a asma está associada a distúrbios do sono.
Aqui estão algumas maneiras pelas quais o CPAP pode ajudar pacientes com asma:
- Melhora da qualidade do sono: Como mencionado anteriormente, a asma pode causar despertares noturnos frequentes devido a sintomas como falta de ar, tosse e sibilância. O CPAP, ao manter as vias aéreas superiores abertas e garantir uma ventilação adequada durante o sono, pode reduzir esses despertares noturnos. Isso leva a uma melhora na qualidade do sono, o que é fundamental para a saúde geral e para o controle da asma.
- Redução da inflamação: A apneia do sono não tratada pode levar a um aumento na inflamação sistêmica, que por sua vez pode piorar os sintomas da asma. O CPAP, ao tratar a apneia, ajuda a reduzir essa inflamação, o que pode ser benéfico para pacientes asmáticos.
- Melhora da função pulmonar: A terapia com CPAP pode melhorar a função pulmonar em pacientes com apneia obstrutiva do sono. Embora a asma seja uma condição diferente, a melhora da função pulmonar pode tornar mais fácil para os pacientes asmáticos respirarem e controlarem seus sintomas.
- Redução da sonolência diurna: A qualidade do sono melhorada proporcionada pelo CPAP pode reduzir a sonolência diurna excessiva que muitos pacientes com asma e apneia do sono experimentam. Isso pode melhorar o funcionamento durante o dia e a qualidade de vida em geral.
No entanto, é importante ressaltar que o uso do CPAP em pacientes com asma deve ser feito sob supervisão médica e de acordo com as necessidades individuais de cada paciente. Nem todos os pacientes com asma se beneficiarão do CPAP, e a terapia deve ser adaptada caso a caso. Além disso, é fundamental que o paciente com asma continue a utilizar seus medicamentos para controle da asma conforme orientado pelo médico, uma vez que o CPAP não substitui o tratamento específico da asma.
Portanto, embora o CPAP não seja o tratamento padrão para a asma, pode ser uma opção a ser considerada em casos em que a asma está relacionada a distúrbios do sono, como a apneia obstrutiva do sono. A decisão de utilizar o CPAP deve ser discutida com um médico especializado em sono e/ou um pneumologista, que avaliará a situação do paciente e determinará a abordagem mais apropriada para o seu caso.
Em resumo, a relação entre asma e sono é uma questão complexa e multidimensional. Entender como a asma afeta o sono é crucial não apenas para melhorar a qualidade de vida dos pacientes asmáticos, mas também para prevenir o desenvolvimento da asma em pessoas que sofrem de insônia crônica. O acompanhamento médico adequado, juntamente com estratégias de gerenciamento do sono, desempenha um papel fundamental na promoção do bem-estar das pessoas que convivem com a asma.